Ministro declama poeta Adélia Prado para atacar Zema
Governador Romeu Zema recebeu livro da escritora mineira em uma rádio de Divinópolis (MG), mas, sem saber quem era, perguntou se ela trabalhava na emissora
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Siga noO ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, alfinetou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ao citar um poema da mineira Adélia Prado. “Tem governante que não conhece”, disse o ministro em referência ao episódio em que o governador mineiro foi presenteado com um livro da poetisa e questionou se a escritora mineira era funcionária de uma rádio local de Divinópolis, demonstrando desconhecer a trajetória literária de uma das maiores poetas de Brasil.
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A provocação do ministro ocorreu durante a cerimônia de apresentação dos avanços do Acordo Rio Doce, na cidade de Mariana, na Região Central de Minas Gerais, na manhã desta quinta-feira (12/6), após o ministro ler o poema “Janela” de Adélia Prado. Na ocasião, o ministro disse que Lula estava “abrindo as janelas” para o melhor.
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“Alguém conhece a autora, poetisa que fez esse poema, 'Janela'? Adélia Prado. Uma grande mineira. Na terra da Adélia Prado, ganhadora do Prêmio Camões, ler esse poema 'Janela' e dizer para o senhor, presidente, que o senhor está reabrindo as janelas do povo de Minas Gerais. Janelas de vida. Agora vocês sabem que tem governante aqui de Minas Gerais que não conhece seu povo, não conhece a Adélia Prado”, disparou o ministro, sem citar o nome do governador Romeu Zema.
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A poeta e contista Adélia Prado venceu o Prêmio Camões 2024, maior premiação literária de língua portuguesa. O prêmio, instituído pelos governos de Brasil e Portugal em 1988, busca estreitar laços culturais entre os países lusófonos e dá 100 mil euros ao vencedor.
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“Nós temos que honrar a Adélia, honrar as melhores tradições de Minas Gerais. Presidente, Adélia Prado é vida, 'Janela' é vida. O senhor veio aqui presidente reabrir as janelas da vida de Minas Gerais. Eu tenho orgulho de estar ao seu lado, presidente. Lutando por esse povo”, continuou. Na sequência, manifestantes na cerimônia entoaram “Fora Zema”.
Relembre o caso
A época da gafe, o governador mineiro foi presenteado com o livro "Reunião de poesia (edição de bolso): 150 poemas selecionados", uma coletânea de escritos feitos por Adélia. "Ela trabalha aqui?", perguntou o governador, ao ganhar o presente. O livro foi entregue a ele durante o podcast "Pauta Quente", do Sistema MPA de Comunicação, em 2023.
Leia o poema Janela de Adélia Prado declamado por Jorge Messias
Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
claraboia na minha alma,
olho no meu coração.